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"A construção de usinas hidrelétricas (UHE) condiciona um processo novo de urbanização e de transformação do espaço e da qualidade de vida da população envolvida. Um megaprojeto como esse pode provocar grandes mudanças ao local de sua instalação e ao seu entorno. Tais transformações podem ser chamadas de mudanças revolucionárias. A Teoria do Equilíbrio Pontuado, a qual centraliza essa pesquisa, possui três conceitos fundamentais (estrutura profunda, períodos de estabilidade e períodos de revolução) e consiste na afirmação de que os sistemas evoluem através da alternância de períodos de equilíbrio, em que as estruturas subjacentes persistentes permitem apenas mudanças incrementais e, períodos de revolução, quando são fundamentalmente alteradas. Nos sistemas envolvidos nesse cenário, notadamente nos sistemas sociais, os distúrbios causam variações que, após um ordenamento, podem ou não serem retidas e reconfigurarem uma nova estrutura profunda. Através de uma pesquisa qualitativa e exploratória, este estudo objetivou compreender as mudanças no uso dos recursos naturais ocorridas na cidade de Porto Velho, a partir da construção das UHE do Complexo do Madeira. A pesquisa evidenciou que a realização da obra foi capaz de alterar a estrutura profunda do sistema social do município. Os principais distúrbios percebidos no que diz respeito ao uso dos recursos naturais do município foram a desapropriação e a enchente ocorrida em 2014. A desapropriação refletiu na qualidade de vida da população, ocasionando mudança nos aspectos pessoal e profissional dos envolvidos no processo. Em relação à enchente, ainda não se tem comprovação de que o evento foi consequência da construção do Complexo do Madeira, apesar de alguns ambientalistas e algumas instituições afirmarem que sim. Porém, cabe observar que, apesar de naquele período o município ter tido um volume de chuvas muito próximo da normalidade, sofreu uma das maiores enchentes do rio Madeira dos últimos 17 anos, o qual atingiu a marca recorde de 19,74 metros, ficando mais de 03 metros acima da cota de emergência (16,68 metros) e desalojando mais de 800 famílias de suas residências, sendo algumas delas remanejadas das áreas alagadas para conjuntos habitacionais. Algumas das consequências das variações mencionadas foram retidas no contexto atual de Porto Velho, reconfigurando a nova estrutura profunda local. A pesquisa não exauriu o tema, contudo seus resultados podem contribuir para que o poder público elabore estratégias e planos de ações no intuito de mitigar os efeitos negativos provocados pela construção do megaprojeto, bem como potencializar os considerados positivos." |
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